sábado, 4 de julho de 2009

Minimalismo

Música: "3055'
Artista: Ólafur Arnalds (Islândia)
Informações: www.myspace.com/olafurarnalds


3055 by Ólafur Arnalds
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Casa vazia, copo cheio. Sentado comportadamente na cadeira do quarto, apoiando os cotovelos na mesa à frente e dedos entrelaçados. As luzes estavam acesas e barulhos de alguns carros que ainda passavam na avenida ali perto, já às 3 da manhã. A calmaria não necessariamente pede o escuro, o sereno. Mas sugere embriagues. O ilícito que leva a consciência à minúcia, que favorece a leveza do ser. O som do piano, tocado com sutileza, simetricamente em harmonia com o violino, é a marcha para o transe.

Que não sugere reflexões, flagelações, explicações. Não há prazer maior do que apenas fluir, sentir uma dose de emoção querendo sair das entranhas do corpo a cada toque do piano, que insiste em soar cada vez mais perigoso. Não apenas sentido nos ouvidos, mas no íntimo de tudo que se entende por belo e eufórico.

Mas é preciso sentir o coração pesado e segura-lo no peito, sabe-se lá como. Porque ainda há mais três minutos de música e o ritmo progressivo ganhará novas proporções. É preciso embriagar-se mais e entregar-se ao deleite, puro e simplesmente orientado ao bem estar. E nada de reflexões, lamentações e anseios.

Porque os instrumentos aceleraram, como se os próprios músicos estivessem sórdidos para explodir em êxtase. É o que me proporcionam. E o transe finalmente atinge seu ápice ao rufar da bateria. A perfeita combinação do clássico com o popular, da leveza com o pesado, da elegância com o caótico. Nenhum pensamento em mente, sem a mínima necessidade de palavras.

E quando a calmaria retorna à cena, volta também a urgência de mais embriaguês, outra dose de sensações ilícitas e mais toneladas de notas musicais.

“É preciso estar sempre embriagado. Apenas isso, mais nada. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos dobra para o chão, é preciso que vos embriagueis sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.” Charles Baudelaire

2 comentários:

  1. Embriaguez apolínea?

    Como esse texto me recordou de Nietzsche, com seus ensinamentos sobre duas forças opostas em relação à Arte: apolíneo e dionísiaco. E precisamente a força dionisiaca tão presente naquilo que se refere à embriaguez, mesmo que de "vinho, de poesia e de virtude". Mesmo que recorrendo a mitologia grega, como não se impressionar com o racional versus o instintivo? Se bem que ainda é preciso ensinar-nos onde está o botão OFF!
    A citação final com a graça de Baudelaire não fica a desejar e deixa em suspeito a questão de nossa existência e sua relação com o tempo e como lembrou Rubén Dário...

    O Fatal

    Dichoso el árbol, que es apenas sensitivo,
    y más la piedra dura porque ésa ya no siente,
    pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo
    ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

    Ser, y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
    y el temor de haber sido y un futuro terror...
    Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
    y sufrir por la vida y por la sombra y

    lo que no conocemos y apenas sospechamos,
    y la carne que tienta con sus frescos racimos,
    y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos
    ¡ y no saber adónde vamos,
    ni de dónde venimos!... (Rubén Dário)

    Abraços Erick,
    Sarah

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  2. Porra, Tedão! Adorei!

    Com certeza a calmaria sugere embriaguez! É isso ou ir dormir, hehehe!

    Esse lance de música é muito massa mesmo! Sem querer acabei lendo no tempo da música, e o texto ficou ainda melhor! Sabia que eu sempre escrevo no meu blog com uma música? É igual ao teu: cada música uma postagem diferente, de acordo com a emoção que a música me traz. Isso é gostoso demais, né?

    Tá mandando muito bem, queridão! Agora deixa eu terminar de ouvir essa música de novo que eu já leio o próximo. E o vinho aqui sobe que é uma beleza, ahuahuahuah!

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