quinta-feira, 23 de julho de 2009

Arte

A arte existe porque a vida não basta”, disse Fernando Pessoa.

Quis impor um basta a vida e ficar apenas com a arte, mas esta não lhe é uma possibilidade. Então faz arte para valer a existência da vida.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Música: "To those who will burn"
Artista: Damien Jurado (Estados Unidos)
Informações: www.myspace.com/damienjurado




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Demorei alguns bons minutos para enfim encarar o papel e o lápis postos na escrivaninha do quarto. Era fim de tarde e o vento entrava gelado pelas frestas da janela. Vesti a blusa xadrez marrom que há anos me acompanha. Um ato até mais pela elegância para o ofício de escrever do que apenas “frio”. Na verdade, bastaria simplesmente fechar o vidro da janela.

E foi o que também fiz, como artimanha para desviar ainda mais a atenção para o papel e o lápis que estavam ali, na mesa, perto do relógio que indicava dezenove horas. Hora de não perder mais tempo, hora de sentar e adentrar ao universo da minha vida paralela. Era hora de escrever aos meus anjos e demônios.

Uma confissão sem reticências. Um veredicto convicto. Uma ânsia do tamanho do mundo. Para meus anjos e meus demônios, que pavimentam a existência no âmbito terrestre com a precisão matemática dos antigos e a genialidade artística dos modernos. Para eles, uma confissão, um veredicto e a ânsia de mais e mais concreto.

É quando entendo os minutos perdidos exitando o testamento. Clamar pelos anjos e demônios é trazer à tona a fúria dos anseios e malevolência das inquietações. Senti o peso da confissão e a rispidez do veredicto para enfim destroçar a ânsia dos pensamentos. Uma verdade em uma insanidade: a necessidade do embate constante entre meus anjos e demônios.

Testemunho a favor do conflito interno e renego a linearidade e, principalmente, a lucidez do cotidiano. Uma confissão aos anjos e demônios, que nada tem a ver com a turma do céu ou a do inferno. O veredicto está em mim e minhas ânsias no único plano que existe: o real, o agora.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Música: "Black Hills"
Artista: Gregory Alan Isakov (África do Sul)
Informações: www.myspace.com/gregoryalanisakov


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Vibrou com a tarde cultural, exatamente do jeito que gostaria que fosse em todos os dias da vida. Leu trechos da revista nova, escutou boas canções e revisou a lista de novos filmes no jornal de ontem antes de jogá-lo fora. Também dedicou um tempinho para escrever pensamentos e deslocar, da memória para o computador, a crítica do último CD que ganhou.

Um ano atrás não seria diferente, como de fato não foi. No dia 13 de julho de 2008 ele estava em Girona, na Espanha, conhecendo igrejas com arquitetura gótica e outras renascentistas, andando sob uma restaurada muralha romana, vagando contemplativo por um antigo bairro judeu do século 14, comprando livros em Barcelona e descansando em cafés tipicamente europeus.

Aqui não é a Europa, os ares são outros, no entanto, repletos de sentimentos capazes de lhe trazer contentamento. As dependências do Engenho Central despertam sensações distintas das sentidas entre as ruínas gregas de Empúrias, mas lhe é um ar respirável, com o imediatismo da realidade.

Ele sabe das possibilidades culturais de mundos tão apartados. A experiência de uma recai sob a outra e juntas agem como força motriz de sua existência. Brasil, Europa, tanto faz. Vive o que sente, reage ao que lhe atinge. O que legitima a memória de outrora é a felicidade verdadeira que reside nos devaneios do presente.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Música: "Maybe Tomorrow"
Artista: Stereophonics (Reino Unido)
Informações: www.myspace.com/stereophonics

Maybe Tomorrow by Stereophonics
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Impaciente. Movimentos repetitivos e ânsia pelo objetivo do momento eram indícios de que apenas se acalmaria quando recebesse aquele e-mail. Alguém fala algo e ele responde com monossílabas. A demanda não era falar. A demanda não era sociabilidade. Impaciente. Lembra de uma música para tentar relaxar e a melodia imaginária era de uma canção que definitivamente não deveria ser desarquivada da memória.

Uma nova mensagem. Recebe, lê, responde e estava decretado o fim das formalidades do dia. A impaciência era também a vontade de realizar outras atividades. Como caminhar. Naquela tarde de temperatura amena ele queria andar por aí escutando música com fones no ouvido. Eram fones novos, daqueles que dá gosto de selecionar músicas favoritas e cantarolar mentalmente pela cidade. São vontades que o fez sentir a chegada da paciência...

Impaciência não combinava com uma leve caminhada que, de tão desejada, até trilha sonora teria. Aquela inquietação da manhã estava relacionada à preocupação alheia, enquanto a indiferença da tarde era a chave para o deleite pessoal. “Menos vocês e mais eu”. Eram seus pés, suas músicas e seu momento.

Todas as preocupações e suposições ficaram na gaveta junto com a impaciência. Durante a caminhada apenas andou como se estivesse em um filme. Sentiu-se o centro das atenções de alguma câmera invisível, captando imagens que não estaria em nenhuma superprodução, mas seria então documento para seu arquivo mental. E aí sim, lembranças sublimes e confortantes, são cabíveis de estarem dispostas para consulta por toda a sua existência.

O destino da andança? Pouco importou naquela tarde. Foi apenas uma desculpa para curtir a si mesmo.

sábado, 4 de julho de 2009

Minimalismo

Música: "3055'
Artista: Ólafur Arnalds (Islândia)
Informações: www.myspace.com/olafurarnalds


3055 by Ólafur Arnalds
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Casa vazia, copo cheio. Sentado comportadamente na cadeira do quarto, apoiando os cotovelos na mesa à frente e dedos entrelaçados. As luzes estavam acesas e barulhos de alguns carros que ainda passavam na avenida ali perto, já às 3 da manhã. A calmaria não necessariamente pede o escuro, o sereno. Mas sugere embriagues. O ilícito que leva a consciência à minúcia, que favorece a leveza do ser. O som do piano, tocado com sutileza, simetricamente em harmonia com o violino, é a marcha para o transe.

Que não sugere reflexões, flagelações, explicações. Não há prazer maior do que apenas fluir, sentir uma dose de emoção querendo sair das entranhas do corpo a cada toque do piano, que insiste em soar cada vez mais perigoso. Não apenas sentido nos ouvidos, mas no íntimo de tudo que se entende por belo e eufórico.

Mas é preciso sentir o coração pesado e segura-lo no peito, sabe-se lá como. Porque ainda há mais três minutos de música e o ritmo progressivo ganhará novas proporções. É preciso embriagar-se mais e entregar-se ao deleite, puro e simplesmente orientado ao bem estar. E nada de reflexões, lamentações e anseios.

Porque os instrumentos aceleraram, como se os próprios músicos estivessem sórdidos para explodir em êxtase. É o que me proporcionam. E o transe finalmente atinge seu ápice ao rufar da bateria. A perfeita combinação do clássico com o popular, da leveza com o pesado, da elegância com o caótico. Nenhum pensamento em mente, sem a mínima necessidade de palavras.

E quando a calmaria retorna à cena, volta também a urgência de mais embriaguês, outra dose de sensações ilícitas e mais toneladas de notas musicais.

“É preciso estar sempre embriagado. Apenas isso, mais nada. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos dobra para o chão, é preciso que vos embriagueis sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.” Charles Baudelaire

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Passado no presente

Música: "In the rowans"
Artista: Balmorhea
Informações:
www.myspace.com/balmorhea



In the rowans by Balmorhea
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O passado é presente. Já o presente é estático. Não há como fugir das demandas do agora sem que a mente revise, numa dinâmica incrível, os fatos e ficções que tornam aquele momento possível. As lembranças e desejos circulam, oferecem possibilidades, recriam o futuro e até mesmo o torna o homem mais feliz do mundo. Não que ele queira este título, porque sabe que lidar em tempo integral com a felicidade é coisa de outro mundo. Conflitos internos são inerentes ao ser humano. É inegável.

As referências da sabedoria de hoje são as glórias e esforços de outrora. E isso não tem nada a ver com o futuro, que ainda o aguarda lá longe, no anonimato, na espreita do embate psíquico. Esta é a quimera da existência. O sublime momento em que peleja consigo mesmo para afundar com sonhos e emergir com convicções.

O presente é o documento que vira passado. Escrevê-lo, memorizá-lo e divulgá-lo apenas aumenta o espaço-tempo das possibilidades desgraçadas, dos fatos mal interpretados e das lições mal tomadas. O documento do passado é um legado esquisito quando sem valor algum para o presente e, mesmo assim, cabível de lembrança.

Miséria para os cânceres da mente. O presente precisa de ópio.