terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ar radical

Música: "Born Again"
Artista: Starsailor (Inglaterra)



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Sete horas da manhã. Desperta, se arruma e a bicicleta já está devidamente preparada para o dia. O grande dia, em que rituais banais se tornam extremamente satisfatórios e prazerosos quando realizados com a mais pura sinceridade. É aquela vontade sentir o vento matinal explodir no rosto e no peito, a necessidade de rodar pela cidade sem destino algum. Afinal, era o dia de esquecer tudo o que poderia fazer sentido.

Em dias sem sentido até mesmo o brilho do sol lhe era conveniente. E estava lá no céu, ameno, a luz que enfim o acordou. Não perdeu mais tempo e saiu. Pedalou. Suou. Cansou e não parou. O vento nas entranhas era energia. Estava fazendo circular o sangue há tempos emperrado e com dificuldades de alimentar o organismo.

Quanto mais pedalava, mais injetava novos ares à vida. O ar radical, que outrora foi primordial a sua formação e hoje deveras melhor experimentado. Combustível vital que, assim como um ritual, mistifica a existência humana e potencializa a longevidade. E, sem sentido, desejou fechar os olhos e descer uma ladeira desfreadamente. Não fez, não quer sempre depender do acaso.

No entanto, melhorar a circulação do sangue não foi suficiente para eliminar o veneno há tanto tempo no organismo. Um veneno que não machuca e não matará. Fere em lembranças e o faz escravo de coisas sem sentido, a única que quer apagar da memória, sempre sem sucesso. E que nem mesmo o que fez hoje sanará.

Sentidos vitais não são substituíveis. Ar renovado algum é capaz de expeli-lo e enquanto isso ele vive, se apega a rituais, facilita a funcionalidade da existência física e retorna ao acaso.

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