sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ruas

Ouço o som das ruas. As ferramentas dos trabalhadores num canteiro de obra, os gritos do guardador de carro e os motores de automóveis em combustão. Mas também ouço passos tensos de quem se sente sufocado pela necessidade do movimento em suas horas pagas, do mesmo modo em que tantas vozes ao meu redor nada dizem, no entanto, soam como um canto agonizante.

As ruas estão infectadas pelos maus anseios e pesares dos indivíduos, tão carregados de angústia e frustração depois de insuportáveis escárnios do patrão e incontáveis tentativas de sobrepor perseverança à opressão das burocracias. É um sentimento desgraçado que chuva alguma infiltra e leva embora.

O suor é permanente. É o sangue que somente o oprimido sente escorrer e sente correr para fora do corpo como a marca de uma luta que é diária e para sempre. Sangra hoje, sangrou ontem e sangrará amanhã. Uma amálgama, uma simbiose, a segunda pele que não protege, mas é incorruptível. As ofensas do cotidiano o embaraçam e então ele sua. Sua o sangue dos justos, o sangue da miséria.


As ruas estão entre o céu e o inferno. É o purgatório onde vivemos e pagamos o injusto preço da liberdade, a liberdade subjugada e estilhaçada a partir do momento em que reagimos contra a servidão. Em vão. O ar das ruas está poluído e o que respiramos é a podridão. Nas ruas, estamos jogados e a perspectiva é lutar contra todos os sons, visões e sensações ao redor. Às vezes, o fedor das ruas é menor, mas o barulho é sempre desagradável.