sábado, 30 de janeiro de 2010

Sobre ilustrar

Música: "Gentle Moon"
Artista: Sun Kil Moon (Estados Unidos)
Todas as estrelas podem brilhar, assim como todos os corações podem ser aquecidos. Desolado em meio ao caos da cidade, em uma noite em que o congestionamento passou das dezenove horas, ele nada mais tinha o que fazer enquanto esperava o alívio no trânsito. Era apenas ele e o céu. Lá em cima, naturais pontos luminosos no azul escuro da noite. Aqui, em terra firme, frenéticos pontos luminosos artificiais. Estava entre a contemplação e a obrigação.

Sabe que, segundo contos urbanos, uma estrela que o indivíduo vê no céu pode já não mais existir. É a tal diferença anos luz entre os acontecimentos do universo e o movimento da Terra. Pensa que é capaz de ainda conseguir ver o ponto de luz sumir, de tanto tempo que está e ainda permanecerá em meio a carros, ônibus, caminhões.

As lanternas dos veículos - e da cidade -, incessantes, o faz subverter os aprendizados científicos. A estrela ainda brilha diante os olhos e isso é o que importa. Para o resto do universo, está morta. Para ele, ela ainda é charmosa, viva, capaz de lhe roubar instantes de atenção. Mesmo distante, o brilho chegou ao íntimo.

Então quis manter o foco naquela estrela, tão distante dos olhos e, ao mesmo tempo, de brilho tão intenso que é capaz de aquecer o coração. O exercício deve ser eterno, sem ruídos alheios, sem devaneios. A estrela nunca morrerá, é o que roga, é o que almeja para que, assim, possa seguir viagem.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Espírito livre

Música: "The enigmatic spirit"
Artista: Vintersorg (Suécia)
Informações: www.myspace.com/vintersorganic





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O portão abriu e lá de longe ele viu o vento o empurrando para o lado de fora. Havia música no movimento do vento. Ele, estático, apenas observava. Mentalmente aproxima o olhar daquela cena, o portão lentamente se abrindo e deixando o horizonte à vista. A saída para o mundo, as possibilidades além da visão. Ele, estático, vislumbrava.

O sopro do vento soava em seus ouvidos, media força com seu corpo. O vento, bravo guardião da incerteza ou o mensageiro do amanhã? Ele, ainda estático, fecha os olhos e, às escuras, enfrenta a natureza. Sem armas, sem argumentos e sem planos. Nem mesmo a carne lhe era necessária, pois já está concentrado em pensamentos. E ainda estático.

O curso do vento é o atalho para, estático, atingir a redenção além das fronteiras visíveis. Quebra a simetria da lógica, desafia a alquimia dos antigos e se transforma numa energia amorfa, oriunda da catarse humana. É a peça que se desencaixa do quebra-cabeça planetário e instaura-se como a falha no perfeito plano divino.

Insólito. O portão permanece aberto e o vento continua a soprar produzindo música. E ele marcado pelo choque com as forças naturais que o tirou o ar e devolveu, mutilou a sensibilidade, abriu feridas e as secou, desvirtuou suas visões e processou mil realidades diante seus olhos em frações de segundos.